segunda-feira, 12 de março de 2012

Resenha: Coraline - Neil Gaiman



N° de páginas:160
Capa do Livro: 3/5
Livro: 4/5

"— Então — disse Coraline —, mais para o fim da tarde, meu pai voltou ao terreno baldio, para recuperar seus óculos. Disse que se deixasse passar um dia, não conseguiria lembrar onde eles haviam caído.
"E logo ele voltou para casa, usando seus óculos. Disse que não teve medo quando ficou lá em pé, sendo picado e ferido pelas vespas, vendo-me fugir. Sabia que tinha que me dar tempo suficiente para correr, ou as vespas perseguiriam a nós dois."
Coraline girou a chave na porta. A chave girou com um clunk sonoro.
A porta abriu-se completamente.
Não havia parede de tijolos do outro lado da porta: apenas escuridão. Um vento frio soprava pela passagem.
Coraline não tomou a iniciativa de atravessar a porta.
— E ele disse que não tinha sido corajoso ao simplesmente ficar lá e ser mordido — disse Coraline ao gato. — Não tinha sido corajoso porque ele não tivera medo: era a única coisa que ele podia fazer. Mas, voltar para pegar os óculos, sabendo que as vespas estavam lá e, desta vez sentindo medo, aquilo era coragem.
Coraline deu o primeiro passo para dentro do corredor. Podia sentir o cheiro de poeira, umidade e mofo. O gato caminhava a seu lado.
— E por quê? — perguntou o gato, embora parecesse muito pouco interessado.
— Porque — disse ela — quando você tem medo e faz mesmo assim, isso é coragem."

"— Você sabe que amo você.
E a despeito de si mesma, Coraline acenou com a cabeça. Era a verdade: a outra mãe a amava. Amava-a, no entanto, como um avaro ama o dinheiro ou como um dragão ama seu ouro. Coraline sabia que aos olhos de botões da outra mãe, ela era uma posse, nada mais. Um bicho de estimação tolerado, cujo comportamento já não era mais divertido."

"Coraline olhou para baixo esperando que fossem bombons ou caramelos. O saco estava preenchido até a metade de grandes besouros reluzentes, subindo um por cima do outro no esforço de sair do saco.
— Não — disse Coraline. — Não quero.
— Você que sabe — disse a outra mãe. Pegou cuidadosamente um besouro especialmente grande, arrancou-lhe as patas (que deixou cair habilmente dentro de um cinzeiro grande de vidro sobre a mesinha ao lado do sofá) e estourou o besouro na boca. Mastigou-o alegremente.
— Hmm — exclamou, e pegou outro.
— Você é nojenta — disse Coraline. — Nojenta, estranha e má."

"O velho maluco do andar de cima chamou Coraline quando a viu deixar o apartamento das senhoritas Spink e Forcible.
— Ei! Oi! Você! Caroline! — gritou por sobre o corrimão.
— É Coraline — respondeu Coraline. — Como vão os ratos?
— Algo os está aterrorizando — disse o velho, coçando os bigodes. — Acho que talvez tenhamos uma doninha pela casa. Algo está acontecendo. Eu ouvi à noite. Na minha terra, armaríamos uma arapuca para ela, com um pedaço de carne ou de hambúrguer talvez e, quando a criatura viesse banquetear-se, então — bam! — seria presa e nunca mais nos incomodaria. Os ratos estão tão apavorados que sequer se aproximam de seus pequenos instrumentos musicais.
— Não acho que ela queira carne — disse
Coraline. Levantou a mão e tocou a chave negra pendurada em volta do seu pescoço. Então, entrou."

"Coraline acaba de mudar para um apartamento numa casa antiga, com 22 janelas e 14 portas. Treze portas abrem e fecham, sem problemas. A décima quarta abre para uma parede de tijolos ou para um corredor escuro e gelado, conforme a hora e a ocasião. Do lado de lá, fica um apartamento maravilhoso. Parecido com o dela, mas muito melhor. Lá a comida é muito mais saborosa, os brinquedos parecem ter vida própria e Coraline descobre que tem uma outra mãe e um outro pai.Viver lá seria ótimo. Mas há um senão. Para ficar no mundo dos outros pais, Coraline teria que se tornar uma pessoa um pouco diferente. Só que essa pequena diferença é assustadora. E irreversível... Que o digam as três crianças presas por trás do espelho. Para elas, Coraline é a única esperança de salvação. Para libertá-las ela terá que usar toda sua inteligência, toda sua capacidade de decifrar enigmas e toda a luz que tem dentro de si."

Desde o dia que assisti ao filme fiquei louca para ler o livro, essa foi uma das poucas excessões à minha regra de sempre ver o filme, apenas depois de ler o livro. Coraline, o filme, é bem legal, mas o livro, obviamente é muuuuito melhor. Há um personagem na adaptação que sequer existe na história no qual foi baseado, foram mudados vários pontos do livro para que ele pudesse entrar. Ok, ele é um personagem até simpático, mas para mim, ele era totalmente desnecessário. Apesar disso, vale a pena conferir o movie.

Coraline é um livro extremamente sombrio, um infanto juvenil que se eu tivesse lido quando era mais novinha, com certeza eu ficaria impressionada e teria dormido com a luz acesa por alguns dias. Nossa protagonista é fantástica, aliás, todos os personagens da história são incrivelmente bem construídos. Como uma menininha pode ser tão esperta e corajosa apesar de sua pouca idade? Sério. Coraline é fascinante.

Da "outra mãe" ao Gato, todos os personagens criados por Gaiman possuem uma pitada de obscuridade. Ao ler a história não consegui imaginar nenhum cenário colorido e bonitinho, apenas branco e cinza, tempo nublado e rostos pálidos. Gente, o final foi o motivo principal para eu dar 4 estrelas para a estória, ele é simplesmente... de tirar o fôlego. Fiquei muito agoniada, apesar de saber como tudo terminaria.

A "outra mãe" é perversa e claro, as gravuras presentes no livro não ajudam muito para que você imagine personagens graciosos rs.

"— Como posso saber que você vai manter sua palavra? — perguntou Coraline.
— Eu juro — disse a outra mãe. — Eu juro pelo túmulo da minha mãe.
— Ela tem um túmulo? — perguntou Coraline.
— Oh, sim — disse a outra mãe. — Eu mesma a coloquei lá. E quando descobri que estava tentando arrastar-se para fora, coloquei-a de volta."

A história possui tantos quotes que se eu pudesse colocaria todos aqui, mas não creio que ficaria agradável para quem fosse ler e o texto teria muita informação, o que não é o objetivo. Gostaria de implantar em vocês a curiosidade, porque é um livro que vale muito a pena. De qualquer forma, eu acabei não resistindo e postei além da conta rs. Mas, espero que vocês gostem.

Voltando aos personagens, tenho certeza de que devem estar pensando que minha preferida na história é Coraline, certo? Errado. O personagem que mais me cativou foi o Gato. Creio que sou suspeita para falar isso, já que sou apaixonada por animais, mas nesse caso, realmente a personalidade dele chamou minha atenção. O personagem é enigmático, indiferente, cheio de boas tiradas e totalmente disposto a cuidar de Coraline. Apesar de fingir não se importar, ele sempre aparece nos momentos certos e ajuda a menina a sair dos inúmeros problemas que arranja.

Como diz no livro, Coraline é uma super concorrente para Alice, de Lewis Carroll. As duas são apaixonantes, cada uma ao seu modo, mas Coraline é de longe o livro mais perturbador entre os dois.

O único motivo que me fez retirar uma estrelinha foi eu ter levado um tempo para me envolver com a história, lá para o meio do livro que ficamos vidrados e os inúmeros quotes surgem no caminho, fazendo-nos querer ler mais e mais. Fora isso, o livro é excelente. É a minha recomendação da semana para vocês.

2 comentários:

  1. ja assisti o filme e amei, assim que tiver uma oportunidade vou comprar e ler o livro *-*

    bjos,
    http://www.just-livros.blogspot.com.br/

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    1. Os dois são ótimos *-* Compra sim, não vai se arrepender. Beijos

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